13 June 2006

Romance em vinil de 12 polegadas * A 12-inch vinyl novel


Qualquer melómano que tenha passado por Londres há alguns anos - décadas (!) - atrás, quando o vinil e a fita magnética ainda reinavam como suportes musicais, não pode ter passado ao lado das famosas lojas de music exchange, onde se podia comprar, vender e trocar discos a preços que permitiam pequenas extravagâncias ou encontrar aquela edição de colecção que perseguíamos há anos. Praticamente todas elas tinham um ambiente sombrio, desarrumado e sujo, e eram geralmente iluminadas por lâmpadas fluorescentes que ajudavam ainda mais a criar uma atmosfera que faria o consumidor da high street que lá entrasse por engano sair logo a correr julgando ter encontrado uma entrada para um submundo de criaturas subterrâneas. Pelo contrário, o cliente habitual sentia-se lá confortável era capaz de ficar horas a vasculhar todas as filas e caixas empoeiradas de álbuns à espera de encontrar aquela raridade que faria valer o tempo perdido e as doenças respiratórias provocadas pelos exércitos de ácaros inalados em cada fôlego - nada disso importava nesta procura do santo graal de 12 polegadas. Este é precisamente o cenário de High Fidelity, o best-seller de Nick Hornby.
High Fidelity - Alta Fidelidade na tradução portuguesa - acompanha as desventuras emocionais do obsessivo Rob Fleming, proprietário de uma loja de discos independente e marginal, em tudo semelhante às que descrevi atrás, que questiona as suas relações passadas para tentar compreender o que correu mal. Rob organiza compulsivamente tudo à sua volta em tops de 5 favoritos. É esta a estrutura em redor da qual se desenvolve a narrativa, em particular no que diz respeito ao "top 5" das separações de namoradas.
O romance de Hornby é, em simultâneo, extremamente hilariante e assustadoramente realista nas descrições das frustrações e traumas que perseguem Rob desde a sua infância. Qualquer homem é capaz de se rever na infância e adolescência do protagonista, o que cria imediatamente - pelo menos nos leitores masculinos - uma ligação com a personagem que faz desculpar-lhe o egoismo, as traições e as idiotices que vai perpetrando ao longo da história. Rob é o idiota que sabe que o é, admite-o e tortura-se com isso à medida que se apercebe que não há redenção.
Tal como praticamente toda a narrativa de Hornby, este romance está eficazmente construído para provocar o riso (atenção se lerem em locais públicos) e por isso, se não valer para mais nada (não é o meu caso), High Fidelity vale para os Robs deste mundo descobrirem que não faz mal rirem-se de si próprios, pois essa extensão é um efeito secundário muito provável.
Any music lover who has been to London some years – decades (!) – ago, back when vinyl and magnetic tape still ruled as musical media, can’t have missed the famous music exchange stores, where you could buy, sell and exchange records at prices that allowed you little extravagances or to find that same collector’s edition you’d been chasing for years. They usually exhibited a murky, dismal, untidy quality, and were generally lit by fluorescent tubes which helped even further create an environment that would make the occasional distracted high street shopper run away from it, suspecting they’d found an entrance to an underworld where subterranean creatures lurked. On the contrary, the usual customer would feel very comfortable there, and would be capable of spending hours exploring through all the album rows and dusty boxes hoping to find the rarity that would make up for the wasted time and the respiratory diseases caused by the armies of dust mites inhaled with every breath – none of that mattered in this search for the 12-inch holy grail. This is precisely the setting of High Fidelity, Nick Hornby’s bestseller.

In High Fidelity we move along the emotional distresses of obsessive Rob Fleming, the owner of an independent record store similar to those described above, who questions his past relationships trying to understand what went wrong. Rob compulsively organises everything around him in top 5 favourites, and this is the structure around which the narrative revolves, particularly concerning the top 5 break-ups.
Hornby’s novel is, at the same time, extremely hilarious and frighteningly realistic in the descriptions of the frustrations and traumas that haunt Rob since his childhood. Any man can see himself reflected in the childhood and adolescence of this persona, which establishes right away – at least for male readers – a bond with the character that makes us forgive him the selfishness, betrayals and foolishness he perpetuates throughout the story. Rob is a fool and he knows it, acknowledges it and tortures himself with it, as he realises there is no redemption.
Just like in most of Hornby’s narrative, this novel is effectively shaped to trigger laughter (mind if you read in public places) and therefore, if it’s not worth for more (not my opinion), High Fidelity is worth for the Robs in this world to find out that it’s OK to laugh at themselves, for that extension is a very likely side effect.

1 comment:

Carla Ferreira de Castro said...

Também gostei (apesar de não ser um "personal favourite"). Recomendo, já agora, do mesmo autor: HOW TO BE GOOD (Hilariante e mto conseguido) FEVER PICTH (para os malucos de futebol, um Hornby autobiográfico) e o último A LONG WAY DOWN.