22 June 2006

Alice vezes dois * Alice times two

O Rev. Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), professor de Matemática em Oxford, ficou para a história não como o eminente matemático que publicou diversos e relevantes tratados (Euclid and his Modern Rivals, de 1879 é o mais conhecido), mas como Lewis Carroll, o autor de Alice's Adventures in Wonderland (1865) e Through the Looking-Glass (1872), obras declaradamente infantis mas com uma série de características que as tornam apelativas e bastante interessantes para leitores mais amadurecidos. As aventuras de Alice foram originalmente contadas por Carroll à pequena Alice Liddell e às suas duas irmãs num dia de Verão de 1862, durante um passeio de barco, e no Natal desse ano Carroll ofereceu o livro a Alice com a dedicatória A Christmas Gift to a Dear Child in Memory of a Summer Day. Só 3 anos mais tarde seria publicado como Alice's Adventures in Wonderland, com as sobejamente conhecidas ilustrações de John Tenniel (a primeira versão tinha sido ilustrada pelo próprio Carroll).
Das inúmeras edições de Alice, destaco duas que sobressaem por motivos distintos:
A primeira é The Annotated Alice, editada por Martin Gardner (1ª edição em 1960). Gardner é um céptico e um estudioso prominente em diversas áreas, incluindo a matemática e a filosofia, que nos proporciona uma leitura rodeada de glosas elucidativas das private jokes de Dodgson, das alusões aos costumes vitorianos - que hoje teríamos dificuldade em contextualizar - e das questões matemáticas e simbólicas por detrás das referências a números que abundam na obra (Dodgson era especialista em charadas matemáticas). Após 46 anos, e revigorado por uma nova edição em 1999 (The Annotated Alice: The Definitive Edition, que reúne a edição de 1960 com a continuação More Annotated Alice, de 1990), Gardner mantém o estatuto de um dos grandes especialistas em Carroll, apesar da recente revisão da vida de Carroll proposta por Karoline Leach que refuta o "mito Carroll" que a crítica - Gardner inclusive - tem construído ao longo do século XX.

A segunda, numa perspectiva mais lúdica, é a edição de Alice's Adventures in Wonderland ilustrada por Anthony Browne. Trata-se de uma interessante alternativa às ilustrações de Tenniel, cujo pendor surrealista se encaixa perfeitamente no ambiente onírico da obra. Esta edição ganhou o Emil/Kurt Maschler Award e garantidamente encantará as crianças com as suas cores fortes e o seu humor, mas também adultos que apreciem ilustração de inegável criatividade artística. A obra vive numa comunicação constante com as imagens e, aliás, citando a protagonista, "para que serve um livro," pensou Alice, "sem imagens ou conversas?"

Rev. Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), Mathematics lecturer in Oxford, became renowned not as the prominent mathematician that published several relevant treatises (Euclid and his Modern Rivals (1879) is the most well-known), but as Lewis Carroll, the author of Alice's Adventures in Wonderland (1865) and Through the Looking-Glass (1872), works openly made for children but with a series of qualities that make them appealing and very interesting for more advanced readers. The adventures of Alice were originally told by Carroll to the little Alice Liddell and her two sisters in a summer day in 1862, during a boat ride, and at that year’s Christmas, Carroll offered the book to Alice with the dedication A Christmas Gift to a Dear Child in Memory of a Summer Day. Only 3 years later would it be published as Alice's Adventures in Wonderland, with the hugely famous illustrations by John Tenniel (the first version had been illustrated by Carroll himself).
From the numerous editions of Alice, I draw attention to two that stand out for different reasons:
The first one is The Annotated Alice, edited by Martin Gardner (1st edition in 1960). Gardner is a skeptic and a prominent scholar in several areas, including mathematics and philosophy, who gives us a reading surrounded with glosses enlightening Dodgson’s private jokes, the references to Victorian habits – which would be difficult for us to contextualise today – and the mathematical and symbolical issues behind the abundant references to numbers in the book (Dodgson was a specialist in mathematical charades). 46 years later, and renewed by a re-edition in 1999 (The Annotated Alice: The Definitive Edition, which gathers the 1960 edition with the sequel More Annotated Alice, from 1990), Gardner still remains one of the greatest Carroll specialists, despite the recent revision of Carroll’s life suggested by Karoline Leach, who refutes the "Carroll myth" that the scholars – including Gardner – have been building throughout the 20th century.
The second one, in a more playful perspective, is the edition of Alice's Adventures in Wonderland illustrated by Anthony Browne. It’s an interesting alternative to Tenniel’s illustrations, with a surrealistic character that perfectly fits in the dreamlike ambience of the book. This edition has won the Emil/Kurt Maschler Award and will surely delight children with its strong colours and humour, but also grown-ups who enjoy illustration with undeniable artistic creativity. The work lives in constant communication with the images and, in fact, as the main character says, ‘what is the use of a book,’ thought Alice, ‘without pictures or conversations?’

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